Mais um pequeno olhar sobre uma obra em desenvolvimento. Espero que gostem.
"Estavam já a comer o pato preparado por José, quando Afra’ recupera a consciência e abre os olhos. Quieta, apenas o seu olhar varria o espaço. Pensou que seria melhor esperar até perceber onde estava e quem seriam aquelas pessoas. Seriam muçulmanas ou cristãs? Ela não podia correr o risco de ser descoberta como uma muçulmana, não agora com um bebe. Mas onde estava o seu bebe? Teria sobrevivido? Apenas tacteou com a sua mão esquerda o mesmo lado e sentiu o que seria um pequeno corpo. Era o seu rebento com certeza. – Mãe, a mulher acordou. – gritou Tiago ao ver a sua mão mexer. Afra’ levanta-se de rompante e pega no seu bebe, encostando-se a um dos cantos da velha casa. Cheia de medo, espera o próximo passo das estranhas pessoas.
- Calma. – diz-lhe Maria. – Vossemecê está em segurança com a sua filha. – Afra’ olha para o seu bebe pela primeira vez. – Senhora, venha comer algo e nós dizemos o que quer saber. Vossemecê está assustada, mas nós não lhe queremos mal. – diz José para tentar acabar com o medo da mulher. – Venha, junte-se a nós. – insiste José e virando-se para a sua família diz – Vamos. Continuemos a refeição. – e com isto, afastam-se de Afra’ com a sua filha ao colo.
Aos poucos, Afra’ começa a ganhar confiança, afinal se lhe queriam fazer mal já o teriam feito à muito tempo. Estava limpa e com roupas lavadas e também esta solta. Não estava amarrada ou algo parecido. Olha mais uma vez para a sua filha. Estava limpa, quente e aconchegada numa manta. De certeza que seriam boas pessoas, tinham-nas ajudado naquela floresta. Perdeu o medo e aos poucos aproxima-se da família.
José apercebe-se da sua proximidade e separa um naco de comida para ela. – Venha, coma algo. Vossemecê precisa de se alimentar, até porque tem a sua filha para amamentar. - Era verdade, conclui Afra’. Sentia-se fraca, cansada e precisaria de um leite forte para a sua filha. Aceitou a comida e senta-se no chão, próxima dos restantes, mas a uma distância que a deixava confortável."
Excerto de um romance especial, por Alvaro Faustino.